O primeiro dentinho que nasce e, anos depois, a primeira 'porteirinha' deixada pelo dente de leite que caiu. Além de serem memórias de momentos marcantes da infância, as primeiras fases do desenvolvimento bucal também marcam o período ideal para começar as idas ao dentista.

Para atender a criançada e construir uma relação positiva com os dentistas, bichinhos de pelúcia, livrinhos, brinquedos e desenhos passam a fazer parte do consultório odontológico. "Mexer na boca é extremamente invasivo para as crianças, principalmente para os bebês que estão na fase oral, porque elas conhecem o mundo pela boca", explica a odontopediatra Camila Piovesan. Na consulta, ludicidade e paciência são recursos fundamentais. "Eu mostro os instrumentais, eles fazem tudo [que eu vou fazer] antes no bichinho, eu sempre falo e explico tudo antes de começar, a gente vai deixando a criança mais à vontade", exemplifica.

Camila avalia que a abordagem diferenciada da odontopediatria é fundamental não só para a saúde da própria criança a longo prazo, mas também para uma mudança cultural na sociedade. "Quanto mais cedo a família for orientada, mais chance a criança tem de adquirir bons hábitos e ter uma boa saúde bucal ao longo da vida. Muita gente, até hoje, só vai ao dentista quando tem um problema para tratar. Tenho convicção de que isso vai mudar completamente a forma com que a odontologia vai ser vista pelas próximas gerações", observa.

Benefícios para a vida toda

Mais qualidade de vida, hábitos mais saudáveis e uma boa saúde bucal, que se reflete até a vida adulta, são os principais benefícios de começar o atendimento da criançada o mais cedo possível. O acompanhamento pode garantir, por exemplo, a prevenção da cárie, doença mais prevalente no mundo segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). "A chance das crianças que têm essas consultas de rotina de ter cárie ao longo da infância e na vida adulta é muito baixa, porque elas sabem prevenir", exemplifica a odontopediatra Renata Al Alam.

A recomendação é que, a partir do nascimento do primeiro dente, já comecem as visitas ao dentista. "Para que a gente tenha saúde bucal ao longo de toda a vida, precisamos iniciar os cuidados desde a infância, porque é nessa fase que a gente começa a criar hábitos saudáveis, tanto de alimentação quanto de saúde bucal", garante a especialista.

Nessa fase, Renata explica que as consultas são muito informativas, principalmente para que pais e responsáveis saibam como cuidar e ajudar as crianças nesse processo. "A ida periódica ao dentista é importante principalmente para informação dos cuidados que as crianças e os pais vão ter em casa. Eles têm que estar com a informação do que fazer no dia a dia para a prevenção", observa. Além de desenvolverem menos cáries, também aumentam as chances de, no futuro, essas crianças lidarem bem com eventuais tratamentos dentários. "São crianças que, na necessidade de tratamentos, terão tranquilidade em ir ao dentista e vão desenvolver menos doenças dentárias", garante.

Para além da higiene bucal

Respiração, fala, mastigação. A odontopediatria, além de prevenir questões dentárias, como a cárie, também acompanha todo o desenvolvimento da criança. "Também tem todo esse olhar para como a criança fala, respira, deglute e mastiga. Orientamos o que a criança deve comer, não só pela questão do açúcar, mas também para estimular o crescimento adequado. Tudo isso tem que ser feito na infância para saber se esse crescimento ósseo está adequado à idade da criança", garante Camila, que também tem especialização em Ortopedia Funcional dos Maxilares. A solução de problemas relacionados ao desenvolvimento craniofacial ainda na infância, conforme Camila, pode ter impactos imediatos na qualidade do sono, concentração e outros aspectos da vida da criança.

Ambas as especialistas garantem que os problemas na oclusão, que é o desenvolvimento das posições dentárias e ósseas do desenvolvimento da boca, são comuns nos consultórios odontopediátricos e, se diagnosticados cedo, facilitam o tratamento. "Quanto mais cedo, mais fácil de tratar porque aquele osso está em pleno desenvolvimento. Temos muitos recursos para tratar as crianças", observa Camila. "Até a necessidade de aparelhos a gente consegue fazer o diagnóstico bem precoce. A gente observa esse desenvolvimento para já corrigir algum problema ortodôntico", complementa Renata, que também trabalha com ortodontia.

Algumas dicas

Crianças imitam seus familiares! É importante ter, dentro de casa, bons exemplos de higiene bucal e hábitos alimentares para inspirar os pequenos

Escovação em dia! A recomendação é começar a escovação já quando surgem os primeiros dentes, com escova de dente adequada ao tamanho do bebê e com pasta dental com flúor (na quantidade equivalente a um grão de arroz)

E o fio dental? Quando houver dentes em contato, mesmo se ainda pequenos, já é indicado o uso do fio dental, que também é oferecido em versões infantis

Anote na agenda! As consultas odontopediátricas devem ocorrer, pelo menos, duas vezes ao ano. A periodicidade varia de acordo com cada criança, mas é importante estar atento já que problemas como a cárie, por exemplo, se desenvolvem mais rapidamente nas crianças

Procure um especialista! A abordagem odontopediátrica é diferenciada justamente para que a criança se acostume com as idas ao dentista e receba as orientações adequadas para cada fase da infância